Sobre ‘Cavaleiros de Laço’ (Ribbon no Kishi)

Em 1953, o mangaká (desenhista de mangás) japonês Osamu Tezuka criou o seguinte enredo para um de seus mangás: “No céu, antes de descerem para a Terra, as crianças poderiam receber dois tipos e coração:  Um azul para meninos ou um rosa para meninas… Num dia, houve um certo anjinho travesso que fez uma menina engolir um coração de menino fazendo assim surgir Safiri, a princesa por traz do cavaleiro”.

O mangá de Tezuka, ‘Ribbon no Kishi’ (A Princesa e o Cavaleiro no Brasil), “Cavaleiro do Laço” ou “Cavaleiro da Fita” em japonês foi um sucesso, abrindo espaço para um gênero quase que exclusivo (dirigido para meninas), os shoujos.
No Brasil, a saga de Safiri também fez muito sucesso, dessa vez no formato de amine para TV. Quem foi criança ou adolescente nos anos 70 lembra bem; passava na Record e depois na TVS (SBT) entre 1973 e 1984.
As peripécias da Princesa,  giravam em torno dela ter que se passar por menino para defender seu reino de malvados e cruéis como o Duque Duralumínio, disposto o tempo todo a tentar revelar a todos os segredo de Safiri.  Rolavam aventuras, bruxas e até um Satã. Tinha aquele sentimento de ter que esconder que era ‘uma coisa’ para ter que agir de outra… Rolava a paixão da menina/menino pelo príncipe bonitinho…
Rolava tristeza as vezes…  O anime não tinha o menor apelo sexual, eu assistia; nas tardes depois a escola e ver Safiri as voltas como menino ou menina não causava menor alarde em mim. Ver a menina receber aulas de como ser ‘menino ‘não me causou absolutamente nada na cabecinha do EU, criança.
O menino Safiri, suspirava pelo Príncipe da Terra de Ouro… Naquela época nem me passava pela cabeça questionar se ‘meninos’ podiam ou não gostar de outros meninos…  As maldades atrapalhadas que o Duque fazia para Safiri, aborreciam, mas eu não sabia o que viria a ser homofobia, era aborrecimento instintivo talvez.
Hoje em dia o mundinho chato, aponta o dedo para as questões de gênero, torce o nariz para orientação sexual nas escolas, reclama de beijo entre rapazes na novela… O mundinho careta deveria ser mais esperto, fazer como Tezuka lá nos longínquos anos de 1950…
Todos sabem que na vida real, o ‘bagúio’ é diferente, os Cavaleiros de Laço ou as Meninas sem fita estão por ai e os Duques se proliferam as centenas.
Acredito que o Osamu Tezuka não pensou em falar em homofobia, acho que não  mesmo mas sua obra nesse caso fala muito sobre, mesmo que pareça um colorido teatro Takarazuka…
A menina que engoliu um coração de menino no céu e veio para a terra para ser cavaleiro bem que poderia ser a histórias de muitos e muitas Safiris por ai,
que quase sempre nunca vamos saber o nome…

A propósito, meu nome é Paulo.